A epidemia COVID-19 alastrou pela Europa e pelo Mundo infectando milhões de pessoas e atingindo já centenas de milhares de vítimas mortais. Durante o período mais grave da pandemia, a vida parou na maioria dos países europeus com profundas restrições à circulação de pessoas, confinamentos em casa, actividade comercial e industrial e a vida social reduzidas a mínimos históricos.
Numa palavra, a Europa viveu (e ainda vive) um verdadeiro cenário de guerra contra um inimigo invisível e imprevisível, que não escolhe idades, género, classes sociais ou países.
A experiência da Rede Europeia de Sítios da Paz e de todos os locais da Europa que a constituem comprova que a maioria dos conflitos e guerras terminaram com a assinatura de Tratados de Paz que, em muitos casos, conduziram a períodos de grandes mudanças políticas e de grande desenvolvimento económico e social durante os quais a Paz foi um facto.
No entanto, a guerra contra o COVID-19 não irá terminar com um Tratado de Paz tal como o conhecemos e em vez de desenvolvimento o que se prevê é antes um longo período de recessão económica e mesmo de retrocesso social.
Se é verdade que a resposta à pandemia em muitos países europeus foi rápida e competente e os respectivos serviços públicos de saúde conseguiram estancar o seu crescimento e minimizar o número de pessoas infectadas e de vítimas mortais, noutros como o Reino Unido, França, Itália e Espanha, (4 das 6 maiores economias europeias) a resposta não foi eficiente e o número de infectados e de vítimas mortais revelaram inesperadas fragilidades dos seus sistemas de saúde e de protecção civil, que nem a solidariedade demonstrada por outros países mais apetrechados conseguiu esconder.
Por outro lado, importa destacar o papel exemplar desempenhado pela larga maioria dos cidadãos europeus materializado em inúmeras manifestações de solidariedade e boa vizinhança, em mobilizações populares de entreajuda e na disciplina dos comportamentos, um papel que foi (e está a ser) um dos factores essenciais no combate à pandemia e aos seus efeitos económicos e sociais imediatos.
A Rede Europeia de Sítios da Paz, que integra organizações públicas e privadas representativas de vários locais da Europa onde foram assinados Tratados de Paz, desde Portugal até à Roménia, e é portadora da experiência e memória histórica desses locais, considera que esta é uma oportunidade para reforçar a solidariedade entre todos os países europeus, a troca de experiências e conhecimento mútuo entre todos os seus povos com o objectivo de dar resposta aos anseios dos europeus por uma Europa dos Cidadãos e por uma Europa de Paz.
Por isso, quer os governos nacionais quer as instituições europeias devem trabalhar na implementação de medidas concretas que concorram para atingir este objectivo, nomeadamente no campo da saúde pública, através do aumento generalizado e equitativo dos orçamentos nacionais e europeu destinados à saúde, do reforço dos Serviços Nacionais de Saúde universais e gratuitos sem prejuízo da iniciativa privada complementar, do aumento generalizado e equitativo em todos os países europeus do número de camas disponíveis em hospitais bem como da produção europeia de equipamentos médicos, de diagnóstico e de tratamento e no apoio à investigação científica vocacionada para a prevenção e tratamento de surtos epidémicos e de doenças crónicas;
No campo da educação, através da introdução de conteúdos educativos sobre esta e outras pandemias, sobre os efeitos de outras guerras mas também nos efeitos e consequências dos Tratados de Paz, de conteúdos educativos que promovam a solidariedade, a entreajuda e a cultura da paz em todos os graus de ensino e com as devidas adaptações por nível etário;
no campos económico e social, através da promoção do emprego e das garantias de rendimento, de incentivos às empresas com vista à produção de produtos acabados europeus nomeadamente em sectores vitais como a saúde, as comunicações e a tecnologia, do alargamento ou lançamento de programas europeus nas áreas da educação e da cultura e, finalmente, da promoção do Turismo Cultural Europeu, com vista ao intercâmbio cultural e melhor conhecimento entre os povos europeus.
Todas as crises e guerras tiveram efeitos terríveis para os povos que as viveram mas também abriram oportunidades de desenvolvimento político, económico e social e, por isso, a Europa deve potenciar as oportunidades que esta pandemia apesar de tudo também abre.
24 de Abril de 2020
Os Membros da Rede Europeia de Sítios da Paz (em reunião por videoconferência)